domingo, 27 de março de 2011

Sócrates versus Jesus


Sócrates:
Bom dia, Jesus, tenho ouvido muito sobre seus ensinamentos maravilhosos. Eu sou apenas um modesto filósofo aqui em Atenas. Falaram-me da sua grande sabedoria e, a julgar pela quantidade de admiradores que o seguem pelas ruas, isso deve ser verdade. Se você puder me conceder alguns minutos, gostaria que me iluminasse com suas respostas para algumas questões que têm me afligido por toda a minha vida.
Jesus:
Sou um pescador de homens na minha busca por seguidores. Trago a verdade de Deus para todos os homens. Procura e encontrarás, peça e obterás a resposta, bata e a porta se abrirá para ti.
Sócrates:
Há uma questão básica que tem sido sempre a maior em minha mente. Embora tenha sido sempre um obstáculo intransponível para mim, na minha busca pela verdade e pelo sentido das coisas, estou certo que, com sua erudição, você vai achá-la muito fácil e vai me tomar por um velho tolo. Sempre quis viver de forma honrada e nobre, mas parece que só tropecei pela vida sem ao menos saber o que é honra e nobreza. Com meu entendimento limitado, sempre me parece que a vida, mesmo com sua beleza e sua fúria, na verdade, não significa nada. Por favor, me diga:como um homem deveria viver? Qual é o propósito da vida?
Jesus:
Servir e reverenciar a Deus.
Sócrates:
Qual deus?
Jesus:
Só existe um Deus.
Sócrates:
Oh, você devia vir morar em Atenas. Aqui, temos vários para escolher.
Jesus:
Só existe um deus verdadeiro.
Sócrates:
Ah, claro, e qual é o deus verdadeiro?
Jesus:
O deus verdadeiro é o Senhor Deus.
Sócrates:
Sim, mas quem é o Senhor Deus? Ou o que ele é?
Jesus:
Ele é o infinito da sabedoria, amor, compaixão, paz e misericórdia. Ele é o criador do céu e da terra e de todas as coisas no universo.
Sócrates:
Todas as coisas?
Jesus:
Sim, todas as coisas. Ele é onipotente. Ele é o senhor, o controlador e o criador de todas as coisas. Ele é onipresente – nada pode acontecer que ele não saiba com antecedência.

Sócrates:
E ele também cria as pragas, guerras, a morte, o sofrimento e o mal?

Jesus:
Não! Essas coisas e todos os outros males e tragédias vêm do Demônio, o príncipe das trevas; ou das fraquezas e da natureza maligna do homem. Deus é só bondade, sem traço de maldade; só o bem pode vir de Deus.
Sócrates:
E, quem é esse tal Demônio? Certamente deve ser um deus para ser capaz de causar calamidades tão grandes sobre a humanidade. Entretanto, você acabou de dizer que só existe um deus. Você também disse que tudo que existe vem desse Deus. E agora você diz que só o bem vem de Deus e que o mal vem de alguém chamado Demônio. Isso parece uma contradição. Temo que sua religião seja complexa demais para esta cabeça velha compreender. Ainda assim, pretendo ser um estudante persistente e tentar entender, se você puder me ajudar de alguma forma. Por favor, explique: quem é o Demônio e como pode ser que todas as coisas venham de Deus mas também não venham de Deus?
Jesus:
O Demônio é um anjo caído que é ambicioso. Ele se rebelou contra Deus e quer destruir todo o seu trabalho.
Sócrates:
O que, em nome de Zeus, é um anjo?
Jesus:
Um anjo é um anjo.
Sócrates:
Claro, claro, é uma identidade. Sócrates é Sócrates. Mas, veja, isso não significa nada para mim, ignorante que sou sobre sua religião. Embora possa ser a verdade mais pura, não tem relação com nada que eu possa compreender. Você poderia comparar o anjo a alguma coisa com que eu esteja familiarizado?
Jesus:
Um anjo é um anjo.
Sócrates:
Por favor, perdoe minha ignorância. Entenda que não sou a autoridade que você é. Nunca vi nem ouvi falar de anjos. Disseram-me que você teve muitas visões estranhas quando vagou quarenta dias pelo deserto sem comer. Suplico que me conte com que se parecem esses anjos.
Jesus:
Eles têm asas.
Sócrates:
Assim como os pernilongos. Você poderia ser mais específico?
Jesus:
Eles são como pessoas, mas têm asas.
Sócrates:
Que mais? Presumo que possam voar.
Jesus:
Ah, sim, é para isso que as asas são feitas.
Sócrates:
Claro, claro, eu devia ter adivinhado. Você diz que eles se parecem com pessoas. E no que são diferentes dos homens?
Jesus:
Eles são muito melhores que os homens… e nunca morrem.
Sócrates:
Melhores que o homem? Como?
Jesus:
Mais virtuosos e mais poderosos. Muito mais poderosos.
Sócrates:
Então são sobre-humanos.
Jesus:
Sim. Certamente!
Sócrates:
Então eles são sobre-humanos e imortais. Nós, em Atenas, chamaríamos tais seres de deuses.

Jesus:
Não! Deus é muito mais poderoso que eles.

Sócrates:
Para nós, Zeus também é mais poderoso que os outros deuses olímpicos, mas os outros também são deuses, por definição. Como você definiria o termo deus?
Jesus:
Deus é o criador de tudo Ele é todo poder, conhecimento, sabedoria e a epítome da justiça, piedade, compaixão, divindade e paz.
Sócrates:
Mas essas qualidades não são necessariamente consistentes. Não é possível para uma pessoa ser justa, pacífica e piedosa, tudo na mesma instância ou situação. Se uma pessoa ou uma nação merece punição pela regra da justiça, deve-se puni-la ou fazer guerra contra ela, mas isto seria uma violação da regra da paz e da piedade. Nenhum ser poderia ter todas essas qualidades porque elas contradizem umas às outras; elas não podem existir juntas na mesma pessoa ao mesmo tempo. É como se um homem tivesse se virado para a esquerda e para a direita ao mesmo tempo e, ainda assim, estivesse inteiro e completo.
Jesus:
Deus opera suas maravilhas de maneiras misteriosas.
Sócrates:
Parece que vocês têm tantos deuses quantos temos em Atenas, só que vocês não os chamam de deuses.
Jesus:
Não! Deus é todo-poderoso.
Sócrates:
Então, a única diferença é o grau de poder?
Jesus:
Não. Deus é melhor e mais virtuoso que eles. O pecado é impossível para ele.
Sócrates:
O que é um pecado?
Jesus:
É um ato de desobediência a Deus.
Sócrates:
Deduzo disso que Deus não poderia pecar, pois não poderia desobedecer a si mesmo. E, se o pecado não é possível para ele, não pecar não é nenhuma façanha dele. Assim como não se mover não é façanha alguma para uma pedra. É só uma questão de definição. O que eles fazem esses anjos?
Jesus:
Eles entregam mensagens para Deus.
Sócrates:
Por que, se Deus é todo-poderoso, haveria necessidade de alguém entregar mensagens para ele?
Jesus:
Ele gosta desse jeito.
Sócrates:
Então eles são escravos de Deus?
Jesus:
Não! Eles o servem voluntariamente.
Sócrates:
E o que acontece se eles não o servirem voluntariamente?
Jesus:
Houve vários anjos, liderados por Satã, o demônio, que se rebelaram contra Deus e foram banidos do Paraíso para o tormento e a punição eterna.
Sócrates:
O que é o Paraíso?
Jesus:
É um lugar maravilhoso, nas alturas do céu. Lá, as ruas são pavimentadas com ouro. Lá, tudo é pacífico e bonito. Deus mora lá e todos que crêem nele vão para lá quando morrem. Lá, os homens têm vida eterna, têm asas, reverenciam Deus, tocam harpas em eterna harmonia, felizes para sempre. O propósito e o objetivo da vida do homem é ir para o Paraíso quando morrer.
Sócrates:
Olha, isso soa parecido com a conversa de quem comeu flor de Lótus. Se este fosse o propósito da vida, não poderíamos simplesmente nos intoxicar com vinho ou drogas e nos sentir no paraíso a qualquer hora, como os mendigos e bêbados que se vêem do outro lado da cidade?
Jesus:
A Bíblia diz “não abusarás do vinho ou de bebidas fortes”.
Sócrates:
Se o único propósito da vida do homem fosse ir para Paraíso, por que ele simplesmente não se mata e vai para lá?
Jesus:
Não matarás!
Sócrates:
Para começar, se Deus quisesse que o homem fosse para o Paraíso, por que o colocou na Terra? Por que simplesmente não colocou o homem no Paraíso desde o começo? Acho difícil de acreditar que o homem, com toda a sua capacidade, seus desejos e complexidades, tenha sido criado meramente para se curvar e para reverenciar. Certamente, não existe, nem nunca existiu, um tirano humano tão frívolo e orgulhoso que quisesse que seus súditos simplesmente se curvassem e o venerassem de forma obsequiosa e subserviente, disponíveis do alvorecer até o pôr-do-sol, solitário para toda a eternidade. Eu entendo muito bem por que Satã quis se rebelar contra essa situação estática, regulada, opressiva e maçante. Pelo que você já me contou, eu teria que me aliar a Satã nessa rebelião, pois, embora me considere um homem humilde, eu não poderia me curvar e adorar, nem cantar preces para um ser que me ameaçasse com punições e tormentos eternos.
Jesus:
O Senhor teu Deus é um deus ciumento e não deves ter outros deuses diante dele.
Sócrates:
Por que Satã se rebelou? Ele sabia que Deus era tão poderoso, como você o descreveu, e que sua derrota era inevitável?
Jesus:
Satã se rebelou porque ele era orgulhoso e queria mandar no paraíso. Ele conhecia uma parte do grande poder de Deus (que era maior que o seu próprio poder), mas ele desejava o poder tão ardentemente que resolveu tentar de qualquer maneira.
Sócrates:
Então, Satã certamente foi corajoso, lutando contra um inimigo que ele não podia derrotar.
Jesus:
Ele era um pecador porque desobedeceu a vontade de Deus.
Sócrates:
Parece, então, que a única diferença entre Satã e Deus é o grau do poder.
Jesus:
Deus é perfeito. Ele é onipotente, onisciente e imaculado.
Sócrates:
Claro, por definição, ele não peca por que não pode desobedecer a si mesmo. A única diferença real entre os dois é o grau de poder. Portanto, Satã não errou nem pecou ao se rebelar contra Deus; ele só errou ao ser derrotado na rebelião. Pois, se ele tivesse vencido, Deus é que seria o pecador, pois Deus teria desobedecido a Satã, que seria melhor que Deus e outros anjos, porque ele não poderia pecar contra si mesmo e ele é que seria onipotente. Se Satã tivesse vencido, teria se tornado Deus, pela sua definição, porque ele teria sido onipotente e sem pecados. Quem sabe se não foi exatamente isso que aconteceu? Pela sua descrição de Deus, começo a suspeitar que Satã venceu.
Jesus:
Deus é mais do que simplesmente poder e completa falta de pecados:ele é justiça infinita, piedade, paz, compaixão e perdão. Satã é impuro, egoísta, destrutivo e maligno.
Sócrates:
O que aconteceu a Satã depois que ele foi expulso do Paraíso?
Jesus:
Ele foi jogado no Inferno por Deus, para ser atormentado e torturado para todo o sempre.
Sócrates:
O que é o Inferno e por que Satã fica lá, se é um lugar tão doloroso e desagradável?
Jesus:
Deus o trancou no Inferno e não permite que ele saia. Deus criou o Inferno para punir Satã e todos os homens que não tenham fé em Deus. É um fogo incessante de queimadura, tortura, agonia e tormento. Todos os pecadores que não pedirem perdão a Deus e não tiverem fé nele vão para lá para toda a eternidade para serem torturados pelo Demônio.
Sócrates:
Se Deus é justo ou piedoso, como ele pode fazer isso para um inimigo que o combateu em batalha? Por que Deus simplesmente não perdoou Satã depois de derrotá-lo, como os homens geralmente fazem com nações capturadas, depois de havê-las derrotado? Parece que os homens são mais piedosos do que Deus, na vitória, pois não tratam os derrotados com tamanhos terrores, nem pelo período de uma vida, muito menos por toda a eternidade. Por que Deus não mostra as qualidades que você descreveu, como justiça, piedade, compaixão e perdão a Satã? Certamente, essa natureza guerreira de Deus contrasta muito com a descrição de um Deus pacífico, piedoso e que perdoa tudo.
Jesus:
Deus tem maneiras misteriosas de executar suas maravilhas.

Sócrates:
Se Satã está preso no Inferno, como poderia levar pragas e tormentas à Humanidade, e por que Deus permite isso, se ele é onipotente e tão bondoso? Se Deus é todo poderoso, que negócio é esse de ele permitir que Satã sobreviva? Por que não o destrói? Nessa altura da conversa, já imagino se não teria sido melhor que o outro tivesse vencido.

Jesus:
Deus permite que Satã saia para que traga pragas e tormentas para a Humanidade, para punir o homem por seus pecados no Jardim do Éden.
Sócrates:
O que é o Jardim do Éden?
Jesus:
Quando Deus criou o primeiro homem e a primeira mulher, Adão e Eva, ele os colocou no Jardim do Éden. Quando foram criados, eram puros e sem pecado. Foi assim que Deus os criou. O Jardim do Éden era um paraíso bonito, que lhes provia tudo que precisavam. Eles não precisavam trabalhar. Bastava coletar as frutas dos galhos de árvores opulentas. Eles eram inocentes e despreocupados como crianças e não sabiam nada sobre o amor carnal. Tinham um ao outro como companheiro e adoravam e reverenciavam Deus, que sempre os visitava.
Sócrates:
Por que Deus criou a humanidade?
Jesus:
Porque ele estava só.
Sócrates:
Por que ele simplesmente não criou mais alguns anjos, que eram mais seus iguais, em vez dessa forma de vida tão inferior, o homem? Será que ele não queria mesmo escravos servis que ele pudesse observar sentindo medo, reverência e adoração a ele?
Jesus:
Uma vez que ele é nosso criador, nós lhe devemos mesmo reverência, adoração e obediência.
Sócrates:
Será que o filho de um criminoso lhe deve obediência ou será que tem o direito e a obrigação de julgar por si mesmo, entre o certo e o errado? Que pecado, que ato de desobediência o homem cometeu no Jardim do Éden?
Jesus:
No centro do Jardim do Éden, Deus colocou a árvore do conhecimento. Deus disse a Adão e Eva para não comerem os frutos daquela árvore. Satã apareceu na forma de uma serpente e disse a Eva que ela teria grande conhecimento se comesse o fruto. Satã lhe disse que Deus temia que se eles comessem o fruto, poderiam se tornar tão grandes quanto ele. Depois que comeram, aprenderam sobre o amor sexual. Este foi o pecado original.
Sócrates:
O conhecimento é algo de que Deus gostaria de nos resguardar? Por que Deus quer nos manter distantes do conhecimento? Será que ele queria nos manter como escravos subservientes, rastejando aos seus pés? Parece-me que devemos agradecer a Satã e reverenciá-lo por sua ajuda. Satã se parece muito com o titã Prometeu, que desafiou as ordens dos deuses e trouxe ao homem o conhecimento do fogo. Por este serviço à humanidade, Prometeu, assim como Satã, foi submetido ao tormento e à tortura eterna. Certamente a vida humana valeria muito menos sem sexo, fogo e conhecimento.

Jesus:
Mas Satã estava mentindo para Eva, pois afinal não nos tornamos tão grandes quanto Deus, depois de comer a fruta. Ele mentiu para nós só porque queria destruir o trabalho de Deus.
Sócrates:
Se Deus é onipotente, por permitiu que Satã viesse ao Jardim do Éden para tentar Eva? E, para começar, se Deus não queria que o homem comesse do fruto proibido, por que pôs a árvore do conhecimento bem no meio do jardim? Se Deus não queria que o homem fizesse sexo, por que ele o equipou com os órgãos necessários para isso? Se Deus não queria que o homem cometesse o pecado original, por que lhe deu o desejo pelo conhecimento, pela aventura e pelo amor carnal?

Jesus:
Deus pôs a árvore do conhecimento no Jardim e permitiu que Satã fosse até lá porque ele queria testar a humanidade.

Sócrates:
Você disse que Deus é onisciente, que ele sabe tudo que acontece antes de acontecer. Certamente Deus já sabia como o homem se comportaria nessa ou em qualquer outra situação.
Jesus:
Deus deu livre arbítrio ao homem. Ele podia tanto ser virtuoso e obedecer a Deus quanto ser pecador e desobedecer a palavra de Deus.
Sócrates:
Deus sabia que o homem poderia pecar?
Jesus:
Ele sabia que o homem poderia pecar mas ele lhe concedeu livre arbítrio para tomar sua própria decisão.

Sócrates:
Deus não poderia ter criado o homem de forma que ele não pudesse pecar? Não poderia ter criado o homem de forma que ele não pecasse nessa situação particular?

Jesus:
Sim, pois se Deus é onipotente, ele poderia ter feito isso, mas ele não queria que o homem fosse um marionete; queria que ele tivesse livre arbítrio.

Sócrates:
Deus poderia ter criado o homem com duas cabeças e três pernas ou de qualquer outro jeito que ele quisesse?
Jesus:
Deus poderia ter criado o homem do jeito que ele quisesse.
Sócrates:
Deus criou o homem do jeito que ele quis? Ele quis que o homem tivesse uma cabeça, duas pernas e que tivesse a aparência que tem?
Jesus:
Claro, Deus é perfeito e onipotente. Ele não poderia cometer um erro.
Sócrates:
Então Deus jamais errou e criou o homem exatamente da maneira que quis, em todos os sentidos?
Jesus:
Sim.
Sócrates:
Então você e eu fomos criados exatamente do jeito que deus quis que fôssemos? E Adão e Eva foram criados exatamente do jeito que Deus quis que fossem?
Jesus:
Sim, foi isso que eu disse.
Sócrates:
Tudo que é parte do homem veio de Deus?

Jesus:
Sim, Deu é o mestre e o controlador, o criador de tudo.
Sócrates:
O Demônio ou outra força qualquer criaram alguma parte do homem?
Jesus:
Não, Deus é o criador de tudo.
Sócrates:
Então, se Deus criou os olhos, pernas e a mente do homem, também criou os desejos do homem, todos os seus desejos, inclusive seu desejo por conhecimento e pelo sexo. Por que os homens pecam?

Jesus:
O homem peca por causa de sua fraqueza e sua natureza maligna.
Sócrates:
A natureza do homem é parte homem, assim como suas mãos, seus pés são parte do homem?
Jesus:
Sim, a natureza do homem é parte do homem.
Sócrates:
Quem criou o homem?

Jesus:
Deus.
Sócrates:
Quem criou as mãos e pés do homem?
Jesus:
Deus.

Sócrates:
Quem deu ao homem duas mãos e dois pés e o fez exatamente como eles são hoje, exatamente como eles eram no tempo de Adão e Eva?

Jesus:
Deus.

Sócrates:
Quem criou a natureza humana?
Jesus:
Deus.

Sócrates:
Quem deu ao homem sua natureza maligna e suas fraquezas? Deus deu, porque tudo que é parte do homem veio de Deus e só de Deus.
Jesus:
Deus deu ao homem o livre-arbítrio.
Sócrates:
Quem decidiu que o homem devia ter duas mãos? O diabo?
Jesus:
Não. Deus decidiu que o homem teria duas mãos.
Sócrates:
Quem decidiu que o homem teria franquezas e uma natureza maligna? O diabo? Não, foi Deus que decidiu que o homem teria fraquezas e natureza maligna. Se a humanidade é falha, maligna ou fraca, é porque Deus pôs falhas ou fraquezas nele e tinha mesmo essa intenção. Deixe-me contar a você outra parábola. Você alguma vez já viu pássaros matando peixes no mar? Quem pôs isso no pássaro, essa capacidade de localizar o peixe e de matá-lo?
Jesus:
O homem tem livre-arbítrio. Deus não o obriga a pecar. Ele simplesmente lhe deu a oportunidade de ser virtuoso ou pecador. O homem não teria valor algum para Deus, se fosse apenas um boneco de marionete, que não pudesse fazer nada a não ser o bem. Ele quis dar ao homem a oportunidade de ser bom ou mau conforme seu próprio mérito, sua própria escolha.
Sócrates:
É absurdo que Deus puna o homem depois de criá-lo. É como se um Homero escrevesse uma ode sobre um porco e depois chicoteasse e batesse nas páginas e as condenasse ao fogo eterno porque ele não gostasse das qualidades do animal. Ou como se um mestre da escultura fizesse uma estátua perfeita de um porco e batesse nela por toda a eternidade, porque não gostasse dos traços do animal.

Jesus:
Deus não criou o homem com uma natureza má nem predeterminou que ele devesse pecar.
Sócrates:
Então quem fez isso?
Jesus:
Deus criou o homem para ser inocente e naturalmente bom. Deus pôs o homem num paraíso, no Jardim do Éden. Ele deu ao homem livre-arbítrio e permitiu que Satã fosse ao Jardim do Éden para testar a humanidade. Deus não predeterminou que o homem deveria pecar.
Sócrates:
Mas Deus criou tudo que levou a essa combinação, situação ou ambiente. Quando ele criou cada um dos elementos ou ingredientes na situação, sabia exatamente como cada um iria reagir aos outros em qualquer circunstância, porque ele sabe tudo. Ele pretendia que cada elemento fosse exatamente como ele era, porque ele era onipotente e não poderia cometer um erro. É como se um cientista ou médico tivesse combinado diversos ingredientes num remédio, que embora fossem inofensivos isoladamente, tornavam-se um veneno mortal quando combinados; e então, depois de administrá-lo no paciente, negar qualquer responsabilidade sobre sua morte. Exatamente dessa forma foi que Deus combinou muitas coisas: um homem inocente, a árvore do conhecimento, um belo jardim e um anjo.
Jesus:
Todos pecaram e se afastaram da glória de Deus.
Sócrates:
Parece-me que seu Deus Senhor criou o homem meramente para observá-lo sofrer. Esse trabalho de Satã, o Jardim do Éden, o livre-arbítrio, é tudo fachada. Deus só queria uma desculpa para intimidar, perseguir, atormentar e oprimir a humanidade. Se um ser onipotente e onisciente cria tudo e permite que suas criaturas reajam de certa forma, na verdade ele pretendia que elas agissem daquele jeito e é o único responsável pelos resultados.

Jesus:
Não zombe de Deus. Não fale desse jeito ou você vai ser jogado na fornalha na qual você vai ranger os dentes para sempre, atormentado e torturado.

Sócrates:
Eu achava que nossos deuses olímpicos eram perversos e irracionais, mas eles parecem mansos cordeirinhos, piedosos e compreensíveis se comparados a esse seu Deus, que atormenta e tortura alguém para toda a eternidade por que essa pessoa fez o que foi forçada a fazer em função de sua natureza e do ambiente criados por esse mesmo Deus.
Jesus:
Oh, dê graças ao Senhor porque ele é bom, porque sua piedade dura para sempre.
Sócrates:
Por que, se é um deus de paz e piedade, ele atormenta a humanidade e permite e até encoraja e exige banhos de sangue sobre a terra? Por que permite, exige mesmo, que Satã tente e torture a humanidade? Já que você diz que nada acontece sem que ele saiba e não apenas saiba, mas tenha feito acontecer, esse ser todo-poderoso e que sabe tudo e que cria tudo, determina tudo, esse ser tem que saber como suas criações vão agir.
Jesus:
Deus deu livre-arbítrio ao homem porque não queria que ele fosse um simples marionete. Deus não queria que o homem pecasse. Deus ficou muito desapontado quando o homem pecou.
Sócrates:
Deus não poderia, de forma alguma, ficar desapontado, porque ele conhecia a natureza do homem e de tudo mais que ele criou. Se ele é todo-poderoso, ele pretendia que homem pecasse. De fato, ele o forçou a pecar, quando o criou com certos desejos e certas fraquezas.

Jesus:
Isso que você diz é blasfêmia. Deus criou o mundo e todas as plantas e animais para o prazer do homem. Olhe para o lindo mundo à sua volta. Como você pode dizer coisas tão terríveis sobre Deus depois de ele ter lhe dado tanto?

Sócrates:
Eu não posso mesmo acreditar nisso. Como poderia um deus tão perverso, sádico e odioso criar um mundo com tanta beleza? Mesmo o homem, com toda a maldade que às vezes parece possuir, tem momentos que exibe uma força incrível, auto-sacrifício, lealdade e graus variados de qualidades conflitantes como a piedade e a justiça. Seu Deus Senhor não tem nenhuma dessas qualidades. Certamente nunca houve um homem tão vil que fizesse a outros homens o que você diz que seu Deus faz para aqueles que não o respeitam: torturar para todo o sempre. Qualquer homem, não importa o quanto tenha sido enganado, torturado ou ofendido – como Príamo, cujo clã inteiro foi dizimado, ou Agamenon, que foi traído por sua esposa e o amante dela – mesmo esses perdoariam depois de anos ou séculos de tortura ao seu inimigo.

Jesus:
Eu sou o caminho, a verdade e a luz. Ninguém vai ao Pai se não for por mim. Creia em mim e tenha vida eterna no Paraíso; renegue-me e sofra a tortura eterna no Inferno.

Sócrates:
Se eu aceitasse seu sistema, teria que me aliar a Satã, contra seu Deus, mesmo sabendo que eu seria atormentado e torturado para sempre. A injustiça e a perversidade do seu Deus são chocantes. Eu tenho ouvido falar coisas horríveis sobre sacrifícios humanos em costas distantes, mas tenho certeza que nem eles pensariam em coisas como torturar vítimas por toda a eternidade. Tenho ouvido histórias aterrorizantes sobre monstros, ciclopes e medusas, mas esses monstros são animais mansinhos se comparados às coisas descritas no seu livro de revelações. E você quer me convencer da natureza pacífica, piedosa e perdoadora do seu Deus Senhor.

Jesus:
Somos todos filhos de Deus. Deus é nosso pai, não quer que pequemos e nos pune quando o fazemos. Ele é justo e piedoso e só nos manda, seus filhos, para o Inferno, para a danação e o tormento eterno por nossas próprias faltas. Por nossos pecados e nossa volúpia sexual, como Adão e Eva, ele não tem escolha, senão nos punir, pela tortura e o fogo eternos.
Sócrates:
Você diz que somos filhos de Deus. Ele é um verdadeiro monstro que tortura seus próprios filhos por terem olhos, pernas e desejos que ele mesmo lhes deu. Que esse diabo malabarista não seja mais acreditado, pois nos engana duplamente e mantém a palavra de promessa aos nossos ouvidos, mas a quebra em nossa esperança. Não vejo propósito, nem razão, nem verdade, nem piedade, nem justiça, nada além de caprichos de um poder cruel. De fato, os seres humanos, apesar de seus caprichos, egoísmo e fraquezas, parecem ter mais qualidades que seu Deus. Seu Deus é demoníaco, sádico, um diabo psicótico.
Jesus:
Nós somos meros humanos e não podemos entender os mistérios infinitos de Deus. É nosso dever sermos fiéis a ele, acreditarmos nele e o seguirmos. Não nos cabe perguntar por quê, mas apenas fazer e morrer.
Sócrates:
Não nos cabe perguntar? Mas e por que fomos dotados de mentes? Se não nos cabe discutir como viver e qual o propósito da vida, por que estamos discutindo isso agora? Por que você passa sua vida pregando para o povo? Por que você arriscou sua vida desafiando as ordens dos romanos?
Jesus:
Pela fé nós somos salvos e que ninguém duvide disso.

Sócrates:
Fé? O que você quer dizer com fé?
Jesus:
Devemos acreditar sem pedir provas. Não devemos ser incrédulos como Tomás. Se acreditarmos em Deus, seremos mil vezes recompensados por todos os nossos problemas e atribulações, quando estivermos no Paraíso.
Sócrates:
Você diz que devemos acreditar em tudo que nos dizem, sem investigar ou examinar; devemos ser ingênuos? Se eu fosse assim, daria minha bolsa para qualquer um na rua que me prometesse devolver, depois, mil vezes o valor dela. Eu seria um tolo agindo da forma que você diz. E você não pede apenas dinheiro, mas que eu dedique minha vida inteira a uma promessa e um propósito sem jamais considerar seus valores. Um ladrão exige meu dinheiro ameaçando minha vida. Você exige minha vida me ameaçando com tortura e me prometendo o paraíso. Eu não sou um manso nem um tolo ingênuo para ser enganado assim por promessas vazias e ameaças.
Jesus:
Os mansos herdarão a Terra.
Sócrates:
Os mansos são massacrados e são escravizados como as mulheres e crianças de uma nação derrotada.

Jesus:
Você não deve questionar Deus!
Sócrates:
Eu nunca encontrei esse cavalheiro, portanto não posso questioná-lo. Eu estou questionando você, que se diz representante dele, pois quero saber se realmente o representa.

Jesus:
Devemos acreditar na Bíblia, nas Escrituras, na Palavra de Deus. Acreditar sem esperar ser capaz de entender e sem exigir provas.
Sócrates:
É impossível para homem não escolher. Você tem noção de que existem milhares de religiões no mundo? Se acreditássemos só pela fé, teríamos que aceitá-las todas. Entretanto, elas todas são diferentes entre si, e aceitá-las todas seria impossível. Seria como acreditar, ao mesmo tempo, que o mundo é redondo e plano. Certamente você não pratica o que prega, pois, neste caso, você aceitaria a religião dos judeus e o Velho Testamento e não teria começado essa sua própria religião herege. E ontem, quando os sacerdotes de Atenas o advertiram para não pregar suas heresias nas ruas, você teria aceitado a religião grega e os deuses do Olimpo, pois estavam aqui primeiro e você deveria acreditar pela fé, já que eles lhe disseram que era verdadeira.
Jesus:
Pela fé somos salvos e que ninguém duvide disso.
Sócrates:
Deixe-me dar-lhe um exemplo específico. Suponha que o Oráculo de Delfos me contasse que certa pessoa fosse culpada de ter estuprado e matado minha esposa, e que eu deveria matá-lo, ou ele me mataria, temendo que eu descobrisse o seu crime e tentasse matá-lo. Então você me diz “Não Matarás!”. Você me diz que eu devo acreditar pela fé em tudo que eu ouvir. Seguindo sua instrução, devo matar o homem, devido à minha fé no Oráculo de Delfos. Entretanto, não devo matar o homem devido à minha fé no Deus Senhor. Mas eu não posso matar o homem e não matar o homem, pois são coisas contraditórias. Portanto, não posso acreditar em ambos. Portanto é impossível acreditar em qualquer coisa só pela fé. Existe uma escolha intelectual que eu, você e todos os homens fazemos, seja de forma voluntária ou não. Devemos escolher no que acreditar. O que você faria? Faria sua escolha pensando, discutindo e considerando todos os aspectos do problema ou negando cegamente que exista a necessidade de fazer uma escolha? Esta escolha é a mais importante na vida de um homem, pois a resposta à questão “qual é o propósito da vida?” determina todo o curso da vida de uma pessoa. Se um homem vai devotar cada movimento seu à sua religião, como você defende, então certamente ele deveria dirigir muito do seu pensamento à questão da escolha da religião. Deixe-me contar uma parábola: se você deve ir de uma cidade até outra numa tarefa que vai consumir sua vida inteira, não seria sábio considerar todas as estradas, já que algumas delas são freqüentadas por ladrões? Além disso, verificaria se não existe uma cidade mais próxima e segura para ir, ou, mais importante, se existe mesmo a cidade para onde vou, afinal.
Jesus:
Se você deseja honestamente conhecer a verdade sobre Deus, sobre a criação e sobre o propósito da vida, existe um caminho muito simples para descobrir a verdade. Tudo que tem a fazer a pedir que Deus entre no seu coração. Se você quiser sinceramente saber a verdade sobre Deus, o Espírito Santo entrará no seu ser e você se unirá a Deus. Nesse momento, você receberá a paz e o conhecimento do Paraíso; e quando você morrer, irá para o Paraíso e viverá para sempre em felicidade e contentamento.
Sócrates:
Desejo muito saber a verdade. O que, exatamente, eu preciso dizer para ganhar este conhecimento e essa sabedoria? Como é que eu falo com ele?
Jesus:
Diga, “Deus, entre no meu coração e me dê a sabedoria para entender a verdade”.
Sócrates:
Quer dizer que simplesmente repetindo isso eu vou ganhar conhecimento sobre o propósito da vida?
Jesus:
Sim. O Senhor diz “procura e encontrarás, pergunta e terás a resposta, bata à porta e ela se abrirá para ti”. Deus prometeu revelar a verdade para todo aquele que procurá-la.
Sócrates:
Deus, entre no meu coração e me dê a sabedoria para entender a verdade!
Jesus:
Então está feito. Agora agradeça a Deus por ter dado a vida eterna a você.
Sócrates:
Mas não aconteceu nada! Não sei nada mais sobre o propósito da vida do que eu sabia antes.
Jesus:
Então você não foi sincero. Você não desejou realmente que Deus entrasse no seu coração e lhe mostrasse a verdade. Você não tem fé que ele entrará no seu coração.
Sócrates:
Eu desejo verdadeiramente saber a verdade. Dediquei minha vida inteira ao estudo da filosofia e da razão. Desejo conhecer o propósito da vida mais do que desejo a própria vida. É uma resposta que tenho buscado desde que vi o sol pela primeira vez. A não ser que a encontre, vou continuar a procurá-la até o dia da minha morte. Talvez ele não tenha me ouvido. Devo pedir de novo, mais alto?

Jesus:
Você falhou em encontrar a resposta porque não tem fé. Se um homem tem a fé do tamanho de um grão de mostarda, ele pode mover uma montanha e tudo que ele desejar acontecerá.
Sócrates:
Isso é impossível. Será que alguma daquelas pessoas que seguiam você hoje tinha parentes ou amigos doentes ou morrendo? Com certeza havia, e com certeza, caso fossem bons cristãos, desejariam que estes amigos ou parentes não estivessem doentes, nem morressem, mas que ficassem saudáveis e felizes novamente. Ninguém vai ser tão tolo de dizer que não tem um amigo à morte. Ninguém vai ser tão insensível de dizer que nunca desejou que o amigo vivesse. Portanto, segue-se que nenhum cristão em todos esses séculos jamais teve fé em Deus, ou então Deus estava mentindo.
Jesus:
O Senhor dá e o Senhor tira. Abençoado seja o nome do Senhor.
Sócrates:
Vou apresentar uma parábola para provar que nunca houve um cristão ou judeu que tivesse fé; e provar que Deus estava mentindo quando prometeu vir ao coração dos homens para lhes ensinar o propósito da vida. Primeiro, você concorda que o Inferno é pior do que qualquer possível desgraça terrestre?
Jesus:
Sim, com certeza.
Sócrates:
E, você não disse que todos os homens são pecadores que se afastaram da glória de Deus?
Jesus:
Sim.
Sócrates:
Todo cristão ou judeu que tenha fé acredita que vai para o inferno se pecar. Permita-me mais essa parábola:cada cristão é como um homem que está no alto de um despenhadeiro. Sabe que se cometer um pecado, cai para a morte, ou pior, para o tormento eterno. Você disse que o Inferno é pior que qualquer punição terrena imaginável. Nenhum cristão pleno de fé jamais pecaria, por pior que fossem seus problemas ou seus desejos, pois isso seria saltar no precipício do tormento eterno. Você disse que todos os homens, inclusive cristãos e judeus fiéis, são pecadores. Portanto, nenhum cristão ou judeu, desde o início dos tempos, jamais acreditou que realmente iriam para o Inferno. Por que se acreditassem mesmo nisso, não pecariam. Não saltariam no abismo se acreditassem que o Inferno e o tormento eterno os esperassem lá em baixo. Todos pulam no abismo. Todos pecam. Portanto nenhum deles realmente acredita em você. Conseqüentemente, Deus não entrou no coração deles mais do que entrou no meu, minutos atrás. Portanto, Deus não tem o direito de exigir que ajam como cristãos ou que tenham fé nele. Portanto, Deus não tem o direito de punir ninguém nem de mandar ninguém para o Inferno. Portanto seu Deus não é justo. Portanto seu Deus não é Deus.
Jesus:
Olhe para o mundo à sua volta. Isso não prova que Deus existe? Veja a natureza bela e benevolente que faz você forte e saudável, e lhe dá o sol para lhe aquecer e a floresta e o campo para lhe alimentar. Você não devia adorar a Deus por tudo que ele lhe deu?
Sócrates:
É, admito que a natureza é boa e benevolente, mas quem mandou o granizo que quebrou meu telhado?
Jesus:
Só porque existe algum mal no mundo, não se pode negar o bem:você deve agradecer a Deus por isso. Deus tem que existir, pois de onde teria vindo o mundo, se ele não o tivesse criado?
Sócrates:
Não foi necessariamente o seu Deus que criou o mundo:há milhares de outros sacerdotes que reclamam a autoria dessa obra para seus próprios deuses. Só porque não tenho a resposta, não significa que devo aceitar a sua sem examiná-la. Eu poderia usar a mesma lógica e pedir que você acreditasse que Zeus criou o mundo. E mesmo que eu aceitasse que Deus criou o mundo, esse seria o fim da sua definição das qualidades de Deus e não poderíamos continuar logicamente, a partir disso e assumir que os outros aspectos da sua definição são verdadeiros.
Jesus:
Espere, não vá! Você tem que salvar sua alma da danação eterna. Aceite Deus no seu coração. Eu não vou sair enquanto você não aceitar.
Sócrates:
Sim. São apenas elucubrações de um velho. Você é que deve estar certo, já que tem tantos seguidores. E quem seria eu, um velho decrépito, para pôr razão e filosofia acima da voz da multidão.
Jesus:
Agradeça a Deus por ter lhe dado a vida eterna.
Sócrates já tinha ido.

Fonte: Quacumque
Autor: Prometheus
Tradução: Geraldo Boz Junior
Editor: Eli Vieira

10 mentiras e 10 verdades sobre o ateísmo

1) Ateus acreditam que a vida não tem sentido.

Pelo contrário: são os religiosos que se preocupam frequentemente com a falta de sentido na vida e imaginam que ela só pode ser redimida pela promessa da felicidade eterna além da vida. Ateus tendem a ser bastante seguros quanto ao valor da vida.


A vida é imbuída de sentido ao ser vivida de modo real e completo. Nossas relações com aqueles que amamos têm sentido agora; não precisam durar para sempre para tê-lo. Ateus tendem a achar que este medo da insignificância é... bem... insignificante.

2) Ateus são responsáveis pelos maiores crimes da história da humanidade.

Pessoas de fé geralmente alegam que os crimes de Hitler, Stalin, Mao e Pol Pot foram produtos inevitáveis da descrença. O problema com o fascismo e o comunismo, entretanto, não é que eles eram críticos demais da religião; o problema é que eles eram muito parecidos com religiões. Tais regimes eram dogmáticos ao extremo e geralmente originaram cultos a personalidades que são indistinguíveis da adoração religiosa. Auschwitz, o gulag e os campos de extermínio não são exemplos do que acontece quando humanos rejeitam os dogmas religiosos; são exemplos de dogmas políticos, raciais e nacionalistas andando à solta. Não houve nenhuma sociedade na história humana que tenha sofrido porque seu povo ficou racional demais.

3) Ateus são dogmáticos.

Judeus, cristãos e muçulmanos afirmam que suas escrituras eram tão prescientes das necessidades humanas que só poderiam ter sido registradas sob orientação de uma divindade onisciente. Um ateu é simplesmente uma pessoa que considerou esta afirmação, leu os livros e descobriu que ela é ridícula. Não é preciso ter fé ou ser dogmático para rejeitar crenças religiosas infundadas. Como disse o historiador Stephen Henry Roberts (1901-71): “Afirmo que ambos somos ateus. Apenas acredito num deus a menos que você. Quando você entender por que rejeita todos os outros deuses possíveis, entenderá por que rejeito o seu”.

4) Ateus acham que tudo no universo surgiu por acaso.

Ninguém sabe como ou por que o universo surgiu. Aliás, não está inteiramente claro se nós podemos falar coerentemente sobre o “começo” ou “criação” do universo, pois essas idéias invocam o conceito de tempo, e estamos falando sobre o surgimento do próprio espaço-tempo.

A noção de que os ateus acreditam que tudo tenha surgido por acaso é também usada como crítica à teoria da evolução darwiniana. Como Richard Dawkins explica em seu maravilhoso livro, “Deus, um delírio”, isto representa uma grande falta de entendimento da teoria evolutiva. Apesar de não sabermos precisamente como os processos químicos da Terra jovem originaram a biologia, sabemos que a diversidade e a complexidade que vemos no mundo vivo não é um produto do mero acaso. Evolução é a combinação de mutações aleatórias e da seleção natural. Darwin chegou ao termo “seleção natural” em analogia ao termo “seleção artificial” usadas por criadores de gado. Em ambos os casos, seleção demonstra um efeito altamente não-aleatório no desenvolvimento de quaisquer espécies.

5) Ateísmo não tem conexão com a ciência.

Apesar de ser possível ser um cientista e ainda acreditar em Deus – alguns cientistas parecem conseguir isto –, não há dúvida alguma de que um envolvimento com o pensamento científico tende a corroer, e não a sustentar, a fé. Tomando a população americana como exemplo: A maioria das pesquisas mostra que cerca de 90% do público geral acreditam em um Deus pessoal; entretanto, 93% dos membros da Academia Nacional de Ciências não acreditam. Isto sugere que há poucos modos de pensamento menos apropriados para a fé religiosa do que a ciência.

6) Ateus são arrogantes.

Quando os cientistas não sabem alguma coisa – como por que o universo veio a existir ou como a primeira molécula auto-replicante se formou –, eles admitem. Na ciência, fingir saber coisas que não se sabe é uma falha muito grave. Mas isso é o sangue vital da religião. Uma das ironias monumentais do discurso religioso pode ser encontrado com freqüência em como as pessoas de fé se vangloriam sobre sua humildade, enquanto alegam saber de fatos sobre cosmologia, química e biologia que nenhum cientista conhece. Quando consideram questões sobre a natureza do cosmos, ateus tendem a buscar suas opiniões na ciência. Isso não é arrogância. É honestidade intelectual.

7) Ateus são fechados para a experiência espiritual.

Nada impede um ateu de experimentar o amor, o êxtase, o arrebatamento e o temor; ateus podem valorizar estas experiências e buscá-las regularmente. O que os ateus não tendem a fazer são afirmações injustificadas (e injustificáveis) sobre a natureza da realidade com base em tais experiências. Não há dúvida de que alguns cristãos mudaram suas vidas para melhor ao ler a Bíblia e rezar para Jesus. O que isso prova? Que certas disciplinas de atenção e códigos de conduta podem ter um efeito profundo na mente humana. Tais experiências provam que Jesus é o único salvador da humanidade? Nem mesmo remotamente – porque hindus, budistas, muçulmanos e até mesmo ateus vivenciam experiências similares regularmente.


Não há, na verdade, um único cristão na Terra que possa estar certo de que Jesus sequer usava uma barba, muito menos de que ele nasceu de uma virgem ou ressuscitou dos mortos. Este não é o tipo de alegação que experiências espirituais possam provar.

8) Ateus acreditam que não há nada além da vida e do conhecimento humano.

Ateus são livres para admitir os limites do conhecimento humano de uma maneira que nem os religiosos podem. É óbvio que nós não entendemos completamente o universo; mas é ainda mais óbvio que nem a Bíblia e nem o Corão demonstram o melhor conhecimento dele. Nós não sabemos se há vida complexa em algum outro lugar do cosmos, mas pode haver. E, se há, tais seres podem ter desenvolvido um conhecimento das leis naturais que vastamente excede o nosso. Ateus podem livremente imaginar tais possibilidades. Eles também podem admitir que se extraterrestres brilhantes existirem, o conteúdo da Bíblia e do Corão lhes será menos impressionante do que são para os humanos ateus.

Do ponto de vista ateu, as religiões do mundo banalizam completamente a real beleza e imensidão do universo. Não é preciso aceitar nada com base em provas insuficientes para fazer tal observação.

9) Ateus ignoram o fato de que as religiões são extremamente benéficas para a sociedade.

Aqueles que enfatizam os bons efeitos da religião nunca parecem perceber que tais efeitos falham em demonstrar a verdade de qualquer doutrina religiosa. É por isso que temos termos como “wishful thinking” e “auto-enganação”. Há uma profunda diferença entre uma ilusão consoladora e a verdade.

De qualquer maneira, os bons efeitos da religião podem ser certamente questionados. Na maioria das vezes, parece que as religiões dão péssimos motivos para se agir bem, quando temos bons motivos atualmente disponíveis. Pergunte a si mesmo: o que é mais moral? Ajudar os pobres por se preocupar com seus sofrimentos, ou ajudá-los porque acha que o criador do universo quer que você o faça e o recompensará por fazê-lo ou o punirá por não fazê-lo?

10) Ateísmo não fornece nenhuma base para a moralidade.

Se uma pessoa ainda não entendeu que a crueldade é errada, não descobrirá isso lendo a Bíblia ou o Corão – já que esses livros transbordam de celebrações da crueldade, tanto humana quanto divina. Não tiramos nossa moralidade da religião. Decidimos o que é bom recorrendo a intuições morais que são (até certo ponto) embutidas em nós e refinadas por milhares de anos de reflexão sobre as causas e possibilidades da felicidade humana.

Nós fizemos um progresso moral considerável ao longo dos anos, e não fizemos esse progresso lendo a Bíblia ou o Corão mais atentamente. Ambos os livros aceitam a prática de escravidão – e ainda assim seres humanos civilizados agora reconhecem que escravidão é uma abominação. Tudo que há de bom nas escrituras – como a regra de ouro, por exemplo – pode ser apreciado por seu valor ético, sem a crença de que isso nos tenha sido transmitido pelo criador do universo.

Fonte:

Vida em Órbita
http://www.samharris.org
Tradução:
http://alenonimo.com.br/

domingo, 2 de janeiro de 2011

Texto do discurso de posse de Dilma Rousseff - 1ª presidenta do Brasil

"Senhor presidente do Congresso Nacional, senador José Sarney,
Senhores chefes de Estado e de Governo que me honram com as suas presenças,
Senhor vice-presidente da República, Michel Temer,
Senhor presidente da Câmara dos Deputados, deputado Marco Maia,
Senhor presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Cezar Peluso,
Senhoras e senhores chefes das missões estrangeiras,
Senhoras e senhores ministros de Estado,
Senhoras e senhores governadores,
Senhoras e senhores senadores,
Senhoras e senhores deputados federais,
Senhoras e senhores representantes da imprensa,
Meus queridos brasileiros e brasileiras,

Pela decisão soberana do povo, hoje será a primeira vez que a faixa presidencial cingirá o ombro de uma mulher.

Sinto uma imensa honra por essa escolha do povo brasileiro e sei do significado histórico desta decisão.

Sei, também, como é aparente a suavidade da seda verde-amarela da faixa presidencial, pois ela traz consigo uma enorme responsabilidade perante a nação.

Para assumi-la, tenho comigo a força e o exemplo da mulher brasileira. Abro meu coração para receber, neste momento, uma centelha da sua imensa energia.

E sei que meu mandato deve incluir a tradução mais generosa desta ousadia do voto popular que, após levar à presidência um homem do povo, um trabalhador, decide convocar uma mulher para dirigir os destinos do país.

Venho para abrir portas para que muitas outras mulheres também possam, no futuro, ser presidentas; e para que - no dia de hoje - todas as mulheres brasileiras sintam o orgulho e a alegria de ser mulher.

Não venho para enaltecer a minha biografia; mas para glorificar a vida de cada mulher brasileira. Meu compromisso supremo - eu reitero - é honrar as mulheres, proteger os mais frágeis e governar para todos!

Venho, antes de tudo, para dar continuidade ao maior processo de afirmação que este país já viveu nos tempos recentes.

Venho para consolidar a obra transformadora do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, venho para consolidar a obra transformadora do Presidente Lula, com quem tive a mais vigorosa experiência política da minha vida e o privilégio de servir ao país, ao seu lado, nestes últimos anos. De um presidente que mudou a forma de governar e levou o povo brasileiro a confiar ainda mais em si mesmo e no futuro do país.

A maior homenagem que posso prestar a ele é ampliar e avançar as conquistas do seu governo. Reconhecer, acreditar e investir na força do povo foi a maior lição que o presidente Lula deixa para todos nós.

Sob a sua liderança, o povo brasileiro fez a travessia para uma outra margem da nossa história.
Minha missão agora é de consolidar esta passagem e avançar no caminho de uma nação geradora das mais amplas oportunidades.

Quero, neste momento, prestar minha homenagem a outro grande brasileiro, incansável lutador, companheiro que esteve ao lado do Presidente Lula nesses oito anos: nosso querido vice-presidente José Alencar. Que exemplo de coragem e de amor à vida nos dá este grande homem!! E que parceria fizeram o presidente Lula e o vice-presidente José Alencar, pelo Brasil e pelo nosso povo!!

Eu e o vice-presidente Michel Temer nos sentimos responsáveis por seguir no caminho iniciado por eles.

Um governo se alicerça no acúmulo de conquistas realizadas ao longo da história. Ele sempre será, ao seu tempo, mudança e continuidade. Por isso, ao saudar os extraordinários avanços recentes, liderados pelo presidente Lula, é justo lembrar que muitos, a seu tempo e a seu modo, deram grandes contribuições às conquistas do Brasil de hoje.

Vivemos um dos melhores períodos da vida nacional: milhões de empregos estão sendo criados; nossa taxa de crescimento mais que dobrou e encerramos um longo período de dependência do Fundo Monetário Internacional, ao mesmo tempo em que superamos a nossa dívida externa.

Reduzimos, sobretudo, a nossa dívida social, a nossa histórica dívida social, resgatando milhões de brasileiros da tragédia da miséria e ajudando outros milhões a alcançarem a classe média.
Mas, em um país com a complexidade do nosso, é preciso sempre querer mais, descobrir mais, inovar nos caminhos e buscar sempre novas soluções.

Só assim poderemos garantir, aos que melhoraram de vida, que eles podem alcançar mais; e provar, aos que ainda lutam para sair da miséria, que eles podem, com a ajuda do governo e de toda a sociedade, mudar de vida e de patamar.

Que podemos ser, de fato, uma das nações mais desenvolvidas e menos desiguais do mundo - um país de classe média sólida e empreendedora.

Uma democracia vibrante e moderna, plena de compromisso social, liberdade política e criatividade.

Queridos brasileiros e queridas brasileiras,
Para enfrentar estes grandes desafios é preciso manter os fundamentos que nos garantiram chegar até aqui.

Mas, igualmente, agregar novas ferramentas e novos valores.

Na política é tarefa indeclinável e urgente uma reforma com mudanças na legislação para fazer avançar nossa jovem democracia, fortalecer o sentido programático dos partidos e aperfeiçoar as instituições, restaurando valores e dando mais transparência ao conjunto da atividade pública.

Para dar longevidade ao atual ciclo de crescimento é preciso garantir a estabilidade, especialmente a estabilidade de preços, e seguir eliminando as travas que ainda inibem o dinamismo da nossa economia, facilitando a produção e estimulando a capacidade empreendedora de nosso povo, da grande empresa até os pequenos negócios locais, do agronegócio à agricultura familiar.

É, portanto, inadiável a implementação de um conjunto de medidas que modernize o sistema tributário, orientado pelo princípio da simplificação e da racionalidade. O uso intensivo da tecnologia da informação deve estar a serviço de um sistema de progressiva eficiência e elevado respeito ao contribuinte.

Valorizar nosso parque industrial e ampliar sua força exportadora será meta permanente. A competitividade de nossa agricultura e da nossa pecuária, que faz do Brasil grande exportador de produtos de qualidade para todos os continentes, merecerá toda a nossa atenção. Nos setores mais produtivos a internacionalização de nossas empresas já é uma realidade.

O apoio aos grandes exportadores não é incompatível com o incentivo, o desenvolvimento e o apoio à agricultura familiar e ao microempreendedor. As pequenas empresas são responsáveis pela maior parcela dos empregos permanentes em nosso país. Merecerão políticas tributárias e de crédito perenes.

Valorizar o desenvolvimento regional é outro imperativo de um país continental, sustentando a vibrante economia do Nordeste, preservando e respeitando a biodiversidade da Amazônia no Norte, dando condições à extraordinária produção agrícola do Centro-Oeste, a força industrial do Sudeste e a pujança e o espírito de pioneirismo do Sul.

É preciso, antes de tudo, criar condições reais e efetivas capazes de aproveitar e potencializar, ainda mais e melhor, a imensa energia criativa e produtiva do povo brasileiro.

No plano social, a inclusão só será plenamente alcançada com a universalização e a qualificação dos serviços essenciais. Este é um passo decisivo e irrevogável, para consolidar e ampliar as grandes conquistas obtidas pela nossa população no período do governo do presidente Lula.

É, portanto, tarefa indispensável uma ação renovadora, efetiva e integrada dos governos federal, estaduais e municipais, em particular nas áreas da saúde, da educação e da segurança, o que é vontade expressa das famílias e da população brasileira.

Queridos brasileiros e brasileiras,
A luta mais obstinada do meu governo será pela erradicação da pobreza extrema e a criação de oportunidades para todos.

Uma expressiva mobilidade social ocorreu nos dois mandatos do Presidente Lula. Mas ainda existe pobreza a envergonhar nosso país e a impedir nossa afirmação plena como povo desenvolvido.

Não vou descansar enquanto houver brasileiros sem alimentos na mesa, enquanto houver famílias no desalento das ruas, enquanto houver crianças pobres abandonadas à própria sorte. O congraçamento das famílias se dá no alimento, na paz e na alegria. É este o sonho que vou perseguir!

Esta não é tarefa isolada de um governo, mas um compromisso a ser abraçado por toda a nossa sociedade. Para isso peço com humildade o apoio das instituições públicas e privadas, de todos os partidos, das entidades empresariais e dos trabalhadores, das universidades, da juventude, de toda a imprensa e das pessoas de bem.

A superação da miséria exige prioridade na sustentação de um longo ciclo de crescimento. É com crescimento que serão gerados os empregos necessários para as atuais e as novas gerações.

É com crescimento, associado a fortes programas sociais, que venceremos a desigualdade de renda e do desenvolvimento regional.

Isso significa – reitero - manter a estabilidade econômica como valor. Já faz parte, aliás, da nossa cultura recente a convicção de que a inflação desorganiza a economia e degrada a renda do trabalhador. Não permitiremos, sob nenhuma hipótese, que essa praga volte a corroer nosso tecido econômico e a castigar as famílias mais pobres.

Continuaremos fortalecendo nossas reservas externas para garantir o equilíbrio das contas externas e bloquear, e impedir a vulnerabilidade externa. Atuaremos decididamente nos fóruns multilaterais na defesa de políticas econômicas saudáveis e equilibradas, protegendo o país da concorrência desleal e do fluxo indiscriminado de capitais especulativos.

Não faremos a menor concessão ao protecionismo dos países ricos que sufoca qualquer possibilidade de superação da pobreza de tantas nações pela via do esforço de produção.
Faremos um trabalho permanente e continuado para melhorar a qualidade do gasto público.

O Brasil optou, ao longo de sua história, por construir um Estado provedor de serviços básicos e de previdência social pública.

Isso significa custos elevados para toda a sociedade, mas significa também a garantia do alento da aposentadoria para todos e serviços de saúde e educação universais. Portanto, a melhoria dos serviços públicos é também um imperativo de qualificação dos gastos governamentais.

Outro fator importante da qualidade da despesa é o aumento dos níveis de investimento em relação aos gastos de custeio. O investimento público é essencial como indutor do investimento privado e como instrumento de desenvolvimento regional.

Através do Programa de Aceleração do Crescimento e do programa Minha Casa, Minha Vida, manteremos o investimento sob estrito e cuidadoso acompanhamento da Presidência da República e dos ministérios.

O PAC continuará sendo um instrumento de coesão da ação governamental e coordenação voluntária dos investimentos estruturais dos estados e municípios. Será também vetor de incentivo ao investimento privado, valorizando todas as iniciativas de constituição de fundos privados de longo prazo.

Por sua vez, os investimentos previstos para a Copa do Mundo e para as Olimpíadas serão concebidos de maneira a dar ganhos permanentes de qualidade de vida, em todas as regiões envolvidas.

Esse princípio vai reger também nossa política de transporte aéreo. É preciso, sem dúvida, melhorar e ampliar nossos aeroportos para a Copa e as Olimpíadas. Mas é mais que necessário melhorá-los já, para arcar com o crescente uso desse meio de transporte por parcelas cada vez mais amplas da população brasileira.

Queridas brasileiras e queridos brasileiros,
Junto com a erradicação da miséria, será prioridade do meu governo a luta pela qualidade da educação, da saúde e da segurança.

Nas últimas décadas, o Brasil universalizou o ensino fundamental. Porém é preciso melhorar sua qualidade e aumentar as vagas no ensino infantil e no ensino médio.

Para isso, vamos ajudar decididamente os municípios a ampliar a oferta de creches e de pré-escolas.

No ensino médio, além do aumento do investimento público vamos estender a vitoriosa experiência do ProUni para o ensino médio profissionalizante, acelerando a oferta de milhares de vagas para que nossos jovens recebam uma formação educacional e profissional de qualidade.

Mas só existirá ensino de qualidade se o professor e a professora forem tratados como as verdadeiras autoridades da educação, com formação continuada, remuneração adequada e sólido compromisso dos professores e da sociedade com a educação das crianças e dos jovens.

Somente com avanço na qualidade de ensino poderemos formar jovens preparados, de fato, para nos conduzir à sociedade da tecnologia e do conhecimento.

Queridas brasileiras e queridos brasileiros,
Consolidar o Sistema Único de Saúde será outra grande prioridade do meu governo.

Para isso, vou acompanhar pessoalmente o desenvolvimento desse setor tão essencial para o povo brasileiro.

O SUS deve ter como meta a solução real do problema que atinge a pessoa que o procura, com uso de todos os instrumentos de diagnóstico e tratamento disponíveis, tornando os medicamentos acessíveis a todos, além de fortalecer as políticas de prevenção e promoção da saúde.

Vou usar, sim, a força do governo federal para acompanhar a qualidade do serviço prestado e o respeito ao usuário.

Vamos estabelecer parcerias com o setor privado na área da saúde, assegurando a reciprocidade quando da utilização dos serviços do SUS.

A formação e a presença de profissionais de saúde adequadamente distribuídos em todas as regiões do país será outra meta essencial ao bom funcionamento do sistema.

Queridas brasileiras e queridos brasileiros,
A ação integrada de todos os níveis do governo e a participação da sociedade é o caminho para a redução da violência que constrange a sociedade e as famílias brasileiras.

Meu governo fará um trabalho permanente para garantir a presença do Estado em todas as regiões mais sensíveis à ação da criminalidade e das drogas, em forte parceria com estados e municípios.

O estado do Rio de Janeiro mostrou o quanto é importante, na solução dos conflitos, a ação coordenada das forças de segurança dos três níveis de governo, incluindo – quando necessário – a participação decisiva das Forças Armadas.

O êxito dessa experiência deve nos estimular a unir as forças de segurança no combate, sem tréguas, ao crime organizado, que sofistica a cada dia seu poder de fogo e suas técnicas de aliciamento dos jovens.

Buscaremos também uma maior capacitação federal na área de inteligência e no controle das fronteiras, com o uso de modernas tecnologias e treinamento profissional permanente.

Reitero meu compromisso de agir no combate às drogas, em especial ao avanço do crack, que desintegra nossa juventude e infelicita as nossas famílias.

O pré-sal é nosso passaporte para o futuro, mas só o será plenamente, queridas brasileiras e queridos brasileiros, se produzir uma síntese equilibrada de avanço tecnológico, avanço social e cuidado ambiental.

A sua própria descoberta é resultado do avanço tecnológico brasileiro e de uma moderna política de investimentos em pesquisa e inovação. Seu desenvolvimento será fator de valorização da empresa nacional e seus investimentos serão geradores de milhares de novos empregos.

O grande agente dessa política foi e é a Petrobrás, símbolo histórico da soberania brasileira na produção energética e do petróleo.

O meu governo terá a responsabilidade de transformar a enorme riqueza obtida no pré-sal em poupança de longo prazo, capaz de fornecer às atuais e às futuras gerações a melhor parcela dessa riqueza, transformada, ao longo do tempo, em investimentos efetivos na qualidade dos serviços públicos, na redução da pobreza e na valorização do meio ambiente. Recusaremos o gasto apressado, que reserva às futuras gerações apenas as dívidas e a desesperança.

Queridos e queridas brasileiras e brasileiros,
Muita coisa melhorou no nosso país, mas estamos vivendo apenas o início de uma nova era. O despertar de um novo Brasil.

Recorro a um poeta da minha terra natal. Ele diz: “o que tem de ser, tem muita força, tem uma força enorme”.

Pela primeira vez o Brasil se vê diante da oportunidade real de se tornar, de ser, uma nação desenvolvida. Uma nação com a marca inerente também da cultura e do estilo brasileiros - o amor, a generosidade, a criatividade e a tolerância.

Uma nação em que a preservação das reservas naturais e das suas imensas florestas, associada à rica biodiversidade e à matriz energética mais limpa do mundo, permitem um projeto inédito de país desenvolvido com forte componente ambiental.

O mundo vive em um ritmo cada vez mais acelerado de revolução tecnológica. Ela se processa tanto na decifração de códigos desvendadores da vida quanto na explosão da comunicação e da informática.

Temos avançado na pesquisa e na tecnologia, mas precisamos avançar muito mais. Meu governo apoiará fortemente o desenvolvimento científico e tecnológico para o domínio do conhecimento e para a inovação como instrumento fundamental de produtividade e competitividade do nosso país.

Mas o caminho para uma nação desenvolvida não está somente no campo econômico ou no campo do desenvolvimento econômico pura e simplesmente. Ele pressupõe o avanço social e a valorização da nossa imensa diversidade cultural. A cultura é a alma de um povo, essência de sua identidade.

Vamos investir em cultura, ampliando a produção e o consumo em todas as regiões de nossos bens culturais e expandindo a exportação de nossa música, cinema e literatura, signos vivos de nossa presença no mundo.

Em suma: temos que combater a miséria, que é a forma mais trágica de atraso, e, ao mesmo tempo, avançar investindo fortemente nas áreas mais modernas e sofisticadas da invenção tecnológica, da criação intelectual e da produção artística e cultural.

Justiça social, moralidade, conhecimento, invenção e criatividade devem ser, mais que nunca, conceitos vivos no dia a dia da nossa nação.

Queridas e queridos brasileiros e brasileiras,
Considero uma missão sagrada do Brasil a de mostrar ao mundo que é possível um país crescer aceleradamente, sem destruir o meio ambiente.

Somos e seremos os campeões mundiais de energia limpa, um país que sempre saberá crescer de forma saudável e equilibrada.

O etanol e as fontes de energias hídricas terão grande incentivo, assim como as fontes alternativas: a biomassa, (incompreensível) a eólica e a solar. O Brasil continuará também priorizando a preservação das reservas naturais e de suas imensas florestas.

Nossa política ambiental favorecerá nossa ação nos fóruns multilaterais. Mas o Brasil não condicionará sua ação ambiental ao sucesso e ao cumprimento, por terceiros, de acordos internacionais.

Defender o equilíbrio ambiental do planeta é um dos nossos compromissos nacionais mais universais.

Meus queridos brasileiros e brasileiras,
Nossa política externa estará baseada nos valores clássicos da tradição diplomática brasileira: promoção da paz, respeito ao princípio de não intervenção, defesa dos Direitos Humanos e fortalecimento do multilateralismo.

O meu governo continuará engajado na luta contra a fome e a miséria no mundo.
Seguiremos aprofundando o relacionamento com nossos vizinhos sul-americanos; com nossos irmãos da América Latina e do Caribe; com nossos irmãos africanos e com os povos do Oriente Médio e dos países asiáticos. Preservaremos e aprofundaremos o relacionamento com os Estados Unidos e com a União Européia.

Vamos dar grande atenção aos países emergentes.

O Brasil reitera, com veemência e firmeza, a decisão de associar seu desenvolvimento econômico, social e político ao nosso continente.

Podemos transformar nossa região em componente essencial do mundo multipolar que se anuncia, dando consistência cada vez maior ao Mercosul e à Unasul. Vamos contribuir para a estabilidade financeira internacional, com uma intervenção qualificada nos fóruns multilaterais.

Nossa tradição de defesa da paz não nos permite qualquer indiferença frente à existência de enormes arsenais atômicos, à proliferação nuclear, ao terrorismo e ao crime organizado transnacional.

Nossa ação política externa continuará propugnando pela reforma dos organismos de governança mundial, em especial as Nações Unidas e seu Conselho de Segurança.

Queridas brasileiras e queridos brasileiros,
Disse, ao início deste discurso, que eu governarei para todos os brasileiros e brasileiras. E vou fazê-lo.

Mas é importante lembrar que o destino de um país não se resume à ação de seu governo. Ele é o resultado do trabalho e da ação transformadora de todos os brasileiros e brasileiras. O Brasil do futuro será exatamente do tamanho daquilo que, juntos, fizermos por ele hoje. Do tamanho da participação de todos e de cada um:
Dos movimentos sociais,
dos que labutam no campo,
dos profissionais liberais,
dos trabalhadores e dos pequenos empreendedores,
dos intelectuais,
dos servidores públicos,
dos empresários,
das mulheres,
dos negros, dos índios, dos jovens,
de todos aqueles que lutam para superar distintas formas de discriminação.

Quero estar ao lado dos que trabalham pelo bem do Brasil na solidão amazônica, no semiárido nordestino e em todos os seus rincões, na imensidão do cerrado, na vastidão dos pampas.

Quero estar ao lado dos que vivem nos aglomerados metropolitanos, na vastidão das florestas; no interior ou no litoral, nas capitais e nas fronteiras do Brasil.

Quero convocar todos a participar do esforço de transformação do nosso país.

Respeitada a autonomia dos poderes e o princípio federativo, quero contar com o Legislativo e o Judiciário, e com a parceria de governadores e prefeitos para continuarmos desenvolvendo nosso país, aperfeiçoando nossas instituições e fortalecendo nossa democracia.

Reafirmo meu compromisso inegociável com a garantia plena das liberdades individuais; da liberdade de culto e de religião; da liberdade de imprensa e de opinião.

Reafirmo que o que disse ao longo da campanha, que prefiro o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras. Quem, como eu e tantos outros da minha geração, lutamos contra o arbítrio, a censura e a ditadura, somos naturalmente amantes da mais plena democracia e da defesa intransigente dos direitos humanos, no nosso país e como bandeira sagrada de todos os povos.

O ser humano não é só realização prática, mas sonho; não é só cautela racional, mas coragem, invenção e ousadia. E esses são os elementos fundamentais para a afirmação coletiva da nossa nação.

Eu e meu vice-presidente Michel Temer fomos eleitos por uma ampla coligação partidária. Estamos construindo com eles um governo onde capacidade profissional, liderança e a disposição de servir ao país serão os critérios fundamentais.

Mais uma vez estendo minha mão aos partidos de oposição e às parcelas da sociedade que não estiveram conosco na recente jornada eleitoral. Não haverá de minha parte e do meu governo discriminação, privilégios ou compadrio.

A partir deste momento sou a presidenta de todos os brasileiros, sob a égide dos valores republicanos.

Serei rígida na defesa do interesse público. Não haverá compromisso com o desvio e o malfeito. A corrupção será combatida permanentemente, e os órgãos de controle e investigação terão todo o meu respaldo para aturem com firmeza e autonomia.

Queridas brasileiras e queridos brasileiros,
Chegamos ao final deste longo discurso. Queria dizer a vocês que eu dediquei toda a minha vida à causa do Brasil. Entreguei, como muitos aqui presentes, minha juventude ao sonho de um país justo e democrático. Suportei as adversidades mais extremas infligidas a todos que ousamos enfrentar o arbítrio. Não tenho qualquer arrependimento, tampouco não tenho ressentimento ou rancor.

Muitos da minha geração, que tombaram pelo caminho, não podem compartilhar a alegria deste momento. Divido com eles esta conquista, e rendo-lhes minha homenagem.

Esta, às vezes dura, caminhada me fez valorizar e amar muito mais a vida e me deu sobretudo coragem para enfrentar desafios ainda maiores. Recorro mais uma vez ao poeta da minha terra:
'O correr da vida – diz ele – embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem'.

É com essa coragem que vou governar o Brasil.

Mas mulher não é só coragem. É carinho também. Carinho que dedico a minha filha e ao meu neto. Carinho com que abraço a minha mãe que me acompanha e me abençoa.

É com esse imenso carinho que quero cuidar do meu povo, e a ele dedicar os próximos anos da minha vida.

Que Deus abençoe o Brasil!
Que Deus abençoe a todos nós!
E que tenhamos paz no mundo!"